Sobrevivendo em Raccoon City — Uma análise de Resident Evil 2

Guilherme F. Mota
10 min readApr 19, 2021

Com algumas semanas de atrasado, volto ao blog para relatar mais um capítulo da minha experiência com essa grandiosa franquia, dessa vez com Resident Evil 2, lançado em 2019, para Playstaton 4, Xbox One e PC.

Assim como seus antecessores, RE 2 é uma produção da gigante japonesa Capcom, desenvolvida pelas mãos de Shinji Mikami, mesmo diretor de outros jogos da série. A diferença aqui está em sua versão, já que o game é um remake de um original lançado em 1998. E, curiosamente, ambos, tanto o remake quanto o original, são frutos de desenvolvimentos bastante conturbados.

A edição de 98 teve sua versão original completamente descartada, mesmo depois de quase 80% do trabalho concluido — protótipo que veio a ser conhecido pelos fãs como Resident Evil 1.5. E um remake para RE 2 chegou a ser cogitado lá no inicio dos anos 2000, após o sucesso do relançamento de seu antecessor, mas por conta de outros trabalhos o projeto foi adiado e só veio a ser anunciado muito depois, em 2015, com seu primeiro trailer apenas em 2018, durante a E3 daquele ano.

Durante todos esses longos anos os fãs da série ficaram bastante inquietos no aguardo deste que seria o melhor Resident Evil de todos os tempos. E, muito dessa demora, se deu por conta da própria equipe, que decidiu se esforçar para capturar a essencia da franquia (que, segundo alguns fãs, se perdeu ao longo dos anos) e para atender às exigências de um mercado cada vez mais moderno, trazendo uma série de melhorias no gamplay e nos gráficos, utilizando de um motor gráfico completamente novo, a RE Engine.

Trama

Leon é o que podemos chamar de “típico herói”, bastante amigável, corajoso, bonito e um tanto ingênuo. Pouco é falado sobre seu passado, mas sabe-se que seu interesse por se tornar um policial se deu por conta dos estranhos assassinatos que ocorreram nas Arklay Mountains (as mesmas de RE 0 e RE 1)

A história do jogo se passa poucos meses depois do primeiro game, ainda no ano de 1998. Nela acompanhamos Leon S. Kennedy, um recruta das forças policiais da cidade de Raccoon City que, depois de alguns dias de atraso, se dirige à cidade para seu primeiro dia de trabalho. No caminho, Leon faz uma parada em um posto de gasolina e, ao chegar lá, percebe que algo está errado. Diversos carros estão parados no local e uma estranha movimentação está acontecendo na loja de conveniências ali ao lado.

Como todo bom policial, Leon decide investigar o local e lá encontra uma série de zumbis. Ao mesmo tempo em que isso ocorre, Claire Redfield, uma estudante universitária que também está indo para a cidade, investigar o paradeiro de seu irmão, para neste mesmo posto e, momento depois, se depara com Leon tentando escapar das sanguinárias criaturas que infestaram o local. Após uma pequena sequência de ação e terror, ambos conseguem fugir e vão em direção a Raccoon City, sem saber que o pior os aguarda.

A partir daí os personagens são separados por um incidente e cada um passa a seguir seu caminho, no qual se vêm dentro de uma investigação envolvendo armas biológicas, monstros e a sombria e já conhecida Umbrella Corporation que, assim como nos jogos anteriores, está “misteriosamente” envolvida com todos os aparecimentos de zumbis registrados até aqui.

Gameplay

Antes de começarmos a detalhar o gameplay, acho importante descrever alguns elementos centrais do game. Assim como no primeiro título da franquia, Resident Evil 2 possui duas campanhas diferentes, cada uma dedicada a um dos personagens. As duas se passam quase ao mesmo tempo, com algumas horas de diferença, começando e terminando de forma conjunta, com os personagens juntos.

Dito isso, vamos ao gameplay. O jogo ainda se apresenta como um survivor horror, com elementos de ação, exploração e puzzles. Diferente dos outros analisados até aqui, que eram bem mais antigos, RE 2 possui uma câmera mais livre, enquadrada nas costas do personagem, além disso sua movimentação é bastante fluída, abandonando as ações duras dos jogos anteriores.

Com essa nova câmera, o time de desenvolvedores conseguiu extrair ao máximo os detalhes de cada um dos cenários. Tanto a delegacia, quanto os esgotos e até mesmo o laboratório são extremamente ricos, repletos de cores, texturas, objetos decorativos e, obviamente, cadáveres. Este detalhamento, em conjunto com a iluminação, que é bastante escura, criam uma ambientação bastante tensa, capaz de assustar o jogador em diversos momentos.

Um destaque aqui vai para a construção dos ambientes durante o gameplay. Diferente do que comumente vemos nos jogos atuais, os inimigos mortos não desaparecem dos cenários, muito pelo contrário, ficam caídos no mesmo local em que morreram. Esse elemento é bastante impressionante e contribui, de forma imprevisível, para a criação de um ambiente cada vez mais tenso, já que, a qualquer momento qualquer um daqueles corpos pode se levantar mais uma vez.

Outro aspecto importante para essa tensão é o design de som, repleto de ruídos, grunhidos, gemidos, passos e mais uma variedade de efeitos sonoros capazes de tirar o fôlego de qualquer jogador.

O combate aqui também é muito melhor, já que agora podemos mirar com muita precisão, o que ajuda, e muito, na economia de itens, já que podemos focar a maioria dos tiros na cabeça dos inimigos. A câmera também contribui, de forma positiva para o combate, por ser mais livre, o jogador consegue ter uma melhor noção dos espaços a sua volta, utilizando de estratégias de movimentação para esquivar dos inimigos ou para, até mesmo, evitar embates.

E seguindo a lógica dos games anteriores, o jogador ainda dispõe de ervas medicinais, granadas, facas e munições, todas bastante limitadas. Uma nova adição foram as cápsulas de pólvora, que, ao serem combinadas entre si, criam munições para todas as armas do game, que vão desde a boa e velha pistola a armas mais parrudas, como um lança granadas e um lança chamas. Outro diferencial é que, ao longo da campanha, todas podem ser melhoradas com miras, supressores, pentes estendidos, empunhaduras e mais, o jogador só precisa encontrar as peças certas para cada arma e a arma certa para cada inimigo.

Falando nisso, os inimigos aqui são inúmeros e, diferente de RE 0 e RE, bem mais críveis. É clara a tentativa da Capcom de deixar o jogo com um tom mais sério e, para isso, todos os inimigos mais diferenciados foram ignorados, como por exemplo as aranhas, corvos e tubarões, que enfrentamos no jogo anterior. O foco aqui é voltado para o clássico zumbi e suas variações, como o já conhecido cachorro mutante e o novo e temível licker, uma criatura quadrupede, sem pele e com o cérebro exposto. Esse cuidado também foi feito com os chefes, que, neste jogo, são dois; Tyrant (T-103), um inimigo bastante amedrontador, ágil e resistente, que nos persegue durante toda a campanha; e G-Type, uma criatura violenta que varia de forma a cada novo encontro com o jogador, ficando cada vez mais letal e nojenta.

Tyrant (T-103), também conhecido como Mr. X, é responsável pelos momentos mais tensos de todo o game. A todo momento ele persegue o jogador, e por ser praticamente imortal, é quase certo que você irá gastar inúmeros recursos só para se manter vivo

Leon Kenedy

Como dito anteriormente, o jogo conta com duas tramas distintas, cada uma com suas peculiaridades, porém, ambas tem o mesmo ponto de partida, seguindo a mesma estrutura e cenários. Considerando minha ordem de jogo, vamos a elas.

Após a separação de Leon e Claire, em uma das principais avenidas da cidade, ambos são cercados por dezenas de zumbis e, momentos antes de fugirem, combinam de se encontrar na delegacia, principal cenário desta história. Chegando lá, Leon se depara com um prédio completamente abandonada, cheio de barricadas, janelas quebradas, corpos e claro, zumbis. Além disso, lá também se encontram pouquíssimos sobreviventes, entre eles, Marvin Branagh, um policial orgulhoso que mesmo ferido não deixa de auxiliar Leon a resolver alguns dos mistérios do local.

É Marvin que dá ao jogador diversos detalhes do que aconteceu na cidade, relatando um repentino surto viral entre seus habitantes e o aparecimento de diversas criaturas comedoras de carne humana. Também é ele que nos instrui e nos dá detalhes de como podemos fugir do local, percorrendo uma série de túneis que, eventualmente, darão fora da cidade.

Em determinado momento até chegamos a controlar a personagem, o que dá uma variação bastante interessante no gameplay

Durante esta campanha, também conhecemos outra personagem bastante misteriosa, Ada Wong, uma sedutora mulher que se apresenta como uma agente do FBI encarregada de investigar o envolvimento da Umbrella Corp. no desastre que devastou a cidade. Ao lado dela, Leon passa a investigar a fundo a relação da empresa com o desenvolvimento de duas armas biológicas, o T-vírus (já conhecido dos jogos anteriores) e o G-vírus, desenvolvido pelo cientista William Birkin, um dos maiores pesquisadores da Umbrella.

De acordo com a Wiki da franquia, os vírus possuem diferenças pontuais, enquanto o T aumenta o metabolismo humano, comprometendo as células do corpo, o G altera-as de forma mais extrema, a ponto de criar uma nova forma de vida, às chamadas células G, que modificam drasticamente o corpo do hospedeiro, criando monstros bastante bizarros e nojentos.

Claire Redfield

Ao que tudo indica a campanha de Claire se passa momentos depois da de Leon, já que em alguns cômodos e cenários encontramos cartas escritas pelo mesmo, com dicas e informações. Sendo assim, ao mesmo tempo em que Leon está fazendo toda sua investigação, Claire está em busca de seu irmão, o agente da S.T.A.R.S, Chris Redfield, que desapareceu depois dos eventos finais do primeiro jogo.

Após se separar de Leon, ela segue para a mesma delegacia e, por toda essa área, traça quase as mesmas rotas que ele. As coisas só começam a mudar quando chegamos nos esgotos e nos deparamos com a pequena Sherry Birki, uma garotinha assustada que se perdeu de seus pais durante o levante dos mortos-vivos.

A partir daí passamos a proteger a criança e a ajudá-la a encontrar sua mãe, que, posteriormente, descobrimos ser Anette Birki, pesquisadora da Umbrella, companheira de William e uma das piores mães da história dos videogames.

Em vários momentos o jogo nos coloca em situações dramáticas, na quais precisamos proteger ou resgatar Sherry, ao mesmo tempo em que nos apresenta e explora certos personagens e áreas de Raccoon City; como no caso de Brian Irons, um ganancioso chefe de polícia que, em determinado momento, rapta a garota, levando-a para o principal orfanato da cidade. Lá, temos uma sequência extremamente tensa em que, controlando Sherry, precisamos escapar das garras deste detestável personagem.

A partir dessas sequências, o jogo também cria uma relação muito boa entre as personagens, quase como se fossem mãe e filha, explorando a força e instinto materno de Claire e a impotência e coragem de Sherry. Falando em mãe, Anette consegue ser a pior de todas, já que, desde a primeira cena em que aparece, simplesmente ignora as necessidades da filha, deixando para se preocupar com ela nos momentos finais da história, onde a mesma está à beira da morte.

Campanhas Bônus

Além da trama principal, o jogo também conta com três histórias extras, que apresentam ao jogador cenários hipotéticos de alguns dos personagens que encontramos ao longo da campanha. São elas: No Time to Mourn, protagonizada por Robert Kendo, dono da principal loja de armas da cidade; Runaway, na qual controlamos a filha do prefeito, Katherine Warren, e Forgotten Soldier, centrada em um dos soldados do Serviço de Segurança da Umbrella.

Por serem bem mais curtas, cerca de 20 minutos, elas não conseguem desenvolver os personagens de uma forma tão eficiente, porém elas ainda contribuem para a construção da cidade e de seus habitantes, mostrando outras facetas desse lugar tão misterioso e interessante que é Raccoon City.

Hunk é conhecido por seus colegas como “ceifador”, sua fama se dá por sua frieza, calma e eficiencia

Além destas, ainda temos The 4th Survivor, uma minicampanha que só pode ser liberada após o término das histórias de Leon e Claire. Ela nos apresenta a Hunk, um dos soldados mais letais da Umbrella. Este é com toda certeza um dos extras mais desafiadores, já que, com uma munição extremamente limitada, temos que fazer com que Hunk chegue são e salvo até o ponto de extração, passando pelos cenários mais perigosos do game, os esgotos e a delegacia, repletos de zumbis, lickers e cachorros.

Considerações Finais

“Primoroso”, acredito que é o adjetivo que melhor define essa obra. Tudo aqui é perfeito, a história, personagens, ambientação, design de som, inimigos e especialmente o gameplay (até mesmo o chato e cansativo backtracking dos jogos anteriores conseguiu me entreter).

Graças a essas qualidades, Resident Evil 2 se torna um ótimo jogo, funcionando bem tanto como um remake quanto como uma obra a parte, o que ela possivelmente é, já que em algumas entrevistas representantes da Capcom afirmaram que este não é um jogo canônico, agradando dos fãs de longa data aos mais novos. E mesmo sem ter jogado o original de 1998 e sem ser um fã assíduo da franquia (ainda), senti como se essa tivesse sido uma das minhas melhores experiências dentro da mídia de jogos, bem melhor que as anteriores, me animando ainda mais para continuar a jogar os jogos da série.

Recomendo demais esse game a todos aqueles que querem conhecer personagens cativantes e interessantes e que tem a coragem para se aventurar nas escuras e perigosas ruas de Raccoon City. Então, até a próxima, quando analisaremos o controverso Resident Evil 3 Remake.

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[Algumas imagens utilizadas neste artigo foram retiradas do Google ou de perfis da comunidade do jogo na Steam]

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Guilherme F. Mota

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