Sobrevivendo em Racoon City — Uma Análise de Resident Evil 0

Guilherme F. Mota
8 min readMar 6, 2021

Meses atrás comentei em um dos meus textos que estava prestes a experenciar, pela primeira vez, uma das aventuras mais longas por uma das franquias mais queridas do mundo dos games. Agora posso contar que estava me referindo a ResidentEvil, ou Biohazard (como é conhecido no Japão) — saga criada pela gigante japonesa Capcom, em meados de 1996.

Você pode estar se perguntando, “como uma pessoa que se propõe a escrever sobre videogames nunca jogou resident evil?”. E eu te respondo com uma pequena história… Em meados de 2008 ou 2009 (não tenho certeza quanto a data), ganhei de presente uma cópia de Resident Evil 4 para Playstation 2, aquele foi meu primeiro jogo da série que, até aquele momento, só conhecia por conversas com amigos. Como toda boa criança, resolvi testar o game e para minha surpresa, aquilo não era nada do que eu esperava. Me lembro perfeitamente de achar a gameplay bastante chata, a estética não me agradou, não consegui lidar muito bem com a escassez de munição e tive que enfrentar uma das mecânicas que mais me frustravam, na época, em relação aos jogos, os puzzles.

Desde então resolvi deixar o jogo de lado e passei a acompanhar a franquia de longe, apenas por meio de conversas, trailers, gameplays e, até mesmo, dos péssimos e nada fiéis filmes dirigidos por Paul W. S. Anderson. Como resultado disso, mesmo sem ter zerado quaisquer um dos mais de dez jogos da franquia, já conheço quase todos os elementos de sua trama, assim como suas maiores reviravoltas e personagens.

Voltando para 2021, decidi que daria mais uma chance para estes jogos, mas, dessa vez, da maneira certa, começando lá do início. Portanto, trago a vocês, esta série de artigos especiais que tratará das minhas primeiras experiências com os títulos da franquia Resident Evil, assim como minhas opiniões e comentários. Serão dez artigos ao todo, cada um dedicado a um dos jogos numerados, indo do 0 ao 7, e aos dois principais spin offs, da série Revelations.

Sem mais delongas, vamos dar início a essa longa saga com a análise de hoje, sobre Resident Evil 0, lançado, originalmente, em 2002, para o Nintendo Game Cube; e, em 2016, para Playstation 3, Playstation 4, Xbox 360, Xbox One e PC, em sua versão remasterizada.

Trama

Resident Evil 0 se apresenta como um jogo de terror, com alguns elementos voltados para a investigação e sobrevivência. Num primeiro momento sua história parece bem simples, ela se passa em 1998, quando uma divisão de soldados de elite, chamada de S.T.A.R.S (Special Tactics and Rescue Service — Táticas Especiais e Serviço de Resgate, em português), é enviada para investigar uma série de assassinatos que aconteceram nas Montanhas Arklay, que ficam nos arredores de Raccoon City.

Formado por um pequeno grupo de militares irrelevantes, com exceção de Rebecca Chambers, médica do esquadrão e protagonista desta história, o grupo chega ao local, onde se depara com duas situações bastante peculiares: um veículo militar tombado, com corpos mutilados de dois soldados; e uma locomotiva parada no meio da mata. A partir daí o grupo se divide (nenhuma surpresa nisso) e passamos a controlar Rebecca, que ficou encarregada de investigar os vagões do trem.

Para a surpresa da protagonista, todos os passageiros do veículo estão mortos, ou quase, e o local está infestado por sanguessugas mutantes — o design dessas criaturas é extremamente sugestivo. O único sobrevivente ali é o ex-tenente Billy Coen, um ex membro das forças armadas dos Estados Unidos condenado a morte por ter, supostamente, assassinado mais de 20 pessoas em uma de suas missões.

Rebecca ao lado de Billy

Com nossa dupla de personagens centrais já formada, o jogador passará a investigar as razões pelais quais os passageiros do trem voltaram a vida, assim como o possível envolvimento da Umbrella Corporation neste estranho caso. A empresa é uma das mais famosas multinacionais do mundo do game, responsável pelo desenvolvimento de uma série de cosméticos, farmacêuticos e, supostamente, armas biológicas, chamadas de T-Vírus e G-Vírus — Este assunto é extremamente importante para as próximas sequências.

A trama deste primeiro jogo é simples e direta ao ponto, o charme aqui vai para a forma como ela é contada, através de cutscenes, arquivos espalhados pelos cenários e, principalmente, diálogos entre os personagens. Falando nisso, Billy e Rebecca me pareceram, no início da campanha, bastante caricatos, sendo Billy um militar brucutu deveras narcisista, e Rebecca, a donzela indefesa. Porém, ao longo do jogo, fui percebendo que isso não passou de uma mera impressão; através de diálogos e cinemáticas, conhecemos melhor ambos os personagens, assim como suas histórias, traumas e motivações, o que cria um sentimento bastante agradável, tanto na relação do jogador com eles quanto na relação entre os dois.

Gameplay

Diferente dos gráficos que, nesta nova versão, receberam uma série de melhorias, a gameplay se manteve a mesma da versão para o Game Cube, ou seja, o jogo ainda se mantém sob uma óticade câmera fixa, mudando de ângulo apenas em algumas salas. Além disso, o jogador continua conduzindo os personagens sempre com um movimento para cima no direcional analógico, o que pode gerar uma certa estranheza no começo, especialmente quando você precisa interagir com certos objetos espalhados pelo mapa.

O combate do game também pode causar certa confusão, já que os comandos de ataque, normalmente alocados nos gatilhos maiores do controle, não são utilizados aqui, mas sim os menores, juntos ao botão de ação. Para ficar mais claro, imagine que um zumbi está vindo na direção do jogador e, para derrotá-lo, é preciso alinhar o personagem ao inimigo, mirar com os gatilhos menores para aí sim atirar, por meio do botão de ação. Falando nisso, esse comando ainda está relacionado com outras ações dos personagens, como abrir portar e coletar e descartar objetos.

Ainda é necessário que o jogador saiba administrar o inventário de ambos os personagens, já que os dois possuem um número limitado de itens que podem carregar. Ou seja, ao longo da campanha você poderá carregar apenas o essencial, como ervas, responsáveis por restaurar a barra de vida dos personagens, chaves e, é claro, armas. Que por sinal não são poucas, RE Zero conta um arsenal com pistolas, uma escopeta, um lança granadas, um rifle e mais alguns outros itens que podem ser utilizados ao longo do combate, como facas e coquetéis molotov.

Este é Tyrant, uma criatura humanoide criada em laboratório a partir da junção do gêne humano com os vírus da Umbrella

Além dos zumbis, o game possui uma boa variedade de inimigos, são insetos gigantes, corvos, morcegos, cachorros, aranhas, as próprias sanguessugas e mais uma série de criaturas que foram afetadas pelos vírus desenvolvidos pela Umbrella. Os chefes, por sua vez, seguem na mesma pegada, só que com tamanhos muito maiores — Temos um escorpião enorme, uma centopeia, um morcego e, o mais diferente deles, o Tyrant.

Todos os confrontos são bastante tensos, já que os personagens dos jogos contam com poucos itens a disposição, especialmente as munições. Então cada tiro deve ser cuidadosamente preciso, pois uma bala errada pode ter um peso significante em futuros combates. Mas, para equilibrar essa mecânica, nem todos os embates são obrigatórios, o jogador pode passar correndo por quase todos os inimigos, basta desviar dos ataques e acionar a próxima porta. Por motivos um tanto óbvios, essa fuga não é possível durante as batalhas contra chefes, que, por sinal, não são tão memoráveis, com exceção do Tyrant e do boss final, que são melhor caracterizados e bastante nojentos.

Considerações Finais

Resident Evil 0 é um jogo velho (nenhuma surpresa nisso), mas acredito que mesmo sua versão remasterizada não foi capaz de resolver alguns de seus maiores problemas, que, com o passar do ano, passaram a incomodar ainda mais, especialmente no quesito câmera e nas mudanças de uma sala para outra — o jogo possui um sistema de carregamento que, entre uma sala e outra, uma rápida tela aparece, mostrando uma porta se abrindo, uma escadaria, coisas do tipo, e isso pode enjoar ao longo do tempo, já que essa pequena cena acontece para toda mudança de ambiente dentro do jogo.

A cena final do game é o exemplo perfeito. Os dois personagens protagonizam uma cena extremamente dramática para eliminar o chefe final do game

Além disso RE Zero também possui alguns momentos que gosto de chamar de “momento capcom”, onde determinado personagem realiza uma ação extremamente caricata, com várias poses e frases feitas, o que acabou me tirando um pouco da imersão do jogo, que é, na minha visão, extremamente importante, especialmente para este tipo de game que busca deixar o jogador tenso a todo instante.

Fora isso, o título entrega uma boa experiência, um pouco curta, com cerca de 9h de duração, mas com uma trama coesa e engajante, desenvolvida através de personagens bem interessantes. Como dito anteriormente, os gráficos remasterizados ainda passam pelo teste do tempo (com exceção das cutscenes que ficaram extremamente batidas), especialmente quando analisamos os personagens centrais, que receberam um detalhamento maior, deixando de lado aquele serrilhado incomodo bastante presente na versão original. Dessa forma o remaster continua sendo, mesmo em 2021, um jogo acessível, mesmo para aquele público de jogadores que prezam por gráficos mais detalhados.

Confesso que os puzzles continuam sendo um problema para mim, mas reconheço que são elementos importantíssimos para a franquia e que, mesmo que não me agradem, são bem construídos e desafiadores, servindo tanto como uma barreira para o progresso do jogador quanto um incentivo para a exploração dos cenários.

Minha experiência com este jogo foi bastante prazerosa, mas, se não fosse pela existência de suas sequências e pelos mistérios estabelecidos aqui, me daria por satisfeito. De qualquer forma, o próximo Resident Evil já está baixado e, quando finalizá-lo, escreverei mais um capítulo para esta série.

Gostou do artigo? Tem alguma opinião sobre o game? Então não deixe de compartilhá-las comigo aqui nos comentários.

[Algumas imagens utilizadas neste artigo foram retiradas do Google ou de perfis da comunidade do jogo na Steam]

E eu sei que não deveria ter começado pelo zero, mas como eu já conheç toda a história da saga, a ordem dos primeiros jogos não faria muita diferença.

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Guilherme F. Mota

Hi, I’m a Brazilian Journalist and History Student. I decided to make this my space to write about video games, great stories, and, maybe, other things.