Sobrevivendo em Racoon City — Uma análise de Code Veronica

Guilherme F. Mota
7 min readApr 27, 2021

Comentei no último texto do blog que o próximo jogo a ser analisado seria RE 3, mas antes disso, vamos fazer um pequeno desvio até a Europa, para acompanhar a investigação de uma recente conhecida.

Três meses após o surto viral em Raccoon City, e com as informações adquiridas ao longo de RE 2, Claire Redfield parte para Paris em busca de seu irmão desaparecido, Chris Redfield. Lá ela passa a investigar uma filial europeia da Umbrella Corporation, e acaba sendo presa e enviada para a Ilha Rockford, um local distante e inóspito controlado pela empresa.

E este é o plot de Code Veronica, uma das sequênciasmais amadas da franquia, lançado, originalmente, no ano 2000 para o falecido Dreamcast, introduzindo a série, de uma vez por todas, no mundo dos 128 bits.

Mesmo apresentando melhorias gráficas, novas ambientações e o retorno de personagens icônicos, o game vendeu pouco em seus primeiros anos de lançamento e, por conta disso, foi relançado, em uma versão mais atualizada, anos depois para o Playstation 2 e Game Cube.

Agora que você já sabe um pouco mais sobre a premissa do jogo, vamos aos fatos. Eu não pretendia jogá-lo, minhas experiencias com RE 0 e RE não foram as melhores e nada me fez pensar que isso mudaria com Code Veronica, especialmente porque, mesmo em suas versões atualizadas, o gameplay é o mesmo, o que para mim é um problema. Porém, todos falam muito bem de CV (vamos chamá-lo assim daqui para frente), especialmente sobre sua história e relevância para a franquia, então resolvi dar uma chance.

Com isso em mente, baixei o famoso PCX2, decidi não comprar a versão de Playstation 4, já que estava extremamente cara para um jogo de 21 anos atrás que eu só jogaria uma vez na vida, e parti para mais essa aventura. Então, sem mais delongas, apresento a vocês minhas primeiras impressões e comentários sobre ResidentEvil: Code Veronica.

Trama

Dando sequência ao que foi dito anteriormente, Claire é enviada para a ilha Rockfort e, após poucos momentos de cárcere, é libertada por Rodrigo Juan, um dos carcereiros da prisão que, por pura pena, dá a garota uma chance de fugir do local que, por incrível que pareça, também foi infestado por um surto do T-Vírus.

De início Steve se apresenta como um personagem bastante irritante, pouco ele faz para ajudar Claire na fuga, mas conforme a campanha progride, uma boa relação e construída entre os dois

Em meio a um lugar completamente devastado e repleto de zumbis, Claire esbarra com Steve Burnside, um jovem imaturo que também foi preso por conta das ações de seu pai, um pesquisador de baixo escalão da Umbrella, pego negociando dados de pesquisas farmacêuticas da empresa.

A partir daí ambos começam uma difícil jornada para escapar da ilha, uma aventura que envolverá um novo tipo de vírus, o T-Veronica e um novo grupo de antagonistas, os gêmeos Alexia Ashford e Alfred Ashford, membros de uma família aristocrata bastante poderosa e influente. O novo vírus é peça central desta nova campanha, já que foi desenvolvido pela própria Alexia e possui algumas características únicas, como a combustão do sangue do contaminado e seu enorme potencial biológico que obviamente despertou o interesse da UmbrellaCorp.

Gameplay

Jogar CV logo após RE 2 Remake foi uma péssima decisão, era óbvio que os controles, gráficos e até mesmo o gameplay seriam bem menos agradáveis, tendo em vista que o game foi lançado a mais de 20 anos. Porém, tirando o incomodo inicial, posso afirmar que até que a experiência não foi tão ruim quanto eu imaginava.

Os gráficos antigos, tanto das cenas pré-renderizadas quanto do gameplay em si, dão um charme ao game, que contribui de uma forma um tanto estranha para o clima de terror. E o gameplay, por sua vez, engloba os melhores e piores aspectos da saga RE; a câmera voltou a ser fixa, que, em determinados cenários, acompanha o personagem, e a movimentação é bastante semelhante à de seus antecessores, um tanto travada e rígida, com alguns problemas a mais derivados das animações de giro do personagem e dos controles (possivelmente causados pelo emulador).

Sistemas já conhecidos pelos fãs, como as ervas medicinais, inventário limitado, pouca munição, baús, aprimoramento de armas, salas de save e outros, também se fazem presentes neste game. O diferencial aqui está presença de armas inéditas, como o crossbow, a MR7, um rifle que permite que o jogador mire em certos inimigos, e o Linear Launcher, uma arma experimental criada para eliminar armas biológicas.

Os inimigos também são basicamente os mesmos, zumbis, cachorros mutantes, aranhas gigantes, morcegos, e algumas outras poucas variações, como o Bandersnatch, uma criatura humanoide que consegue esticar seu único braço para atacar e se movimentar pelo cenário, e o Gulp Worm, um verme gigante criado a partir da junção do gene de uma minhoca com o T-vírus.

Nosferatu foi uma das primeiras cobaias do T-Veronica, sua mutação, fruto de anos de ação viral, o tornou bastante semelhante a um inseto, agressivo e cheio de patas espalhadas pelo corpo

Diferentes destes, os chefes estão repletos de novidades, aqui temos o Albinoid, uma criatura com poderes elétricos criada a partir do DNA de salamandras; Nosferatu, um homem infectado pelo T-Veronica e a própria Alexia, que após quinze anos de adaptação ao vírus, desenvolveu uma série de habilidades extremamente perigosas, como seu sangue inflamável, seus tentáculos e controle de criaturas bem semelhantes a formigas — o jogo também conta com outro boss bastante memorável, mas evitarei mais comentários pois sua aparição é uma das maiores surpresas da trama.

Ambientação

Costumo colocar esse quesito em meio ao gameplay, mas sinto que o jogo pede por comentários separados. CV conta com dois cenários principais, a Ilha Rockfort e a base da Umbrella na Antártica, e, por conta disso, acredito que a Capcom conseguiu concentrar seus esforços na criação de uma ambientação rica em detalhes e muito bem trabalhada.

Cada canto de cada sala conta um pouco mais sobre a história destes lugares, as celas das prisões estão completamente abandonadas por conta das fugas em massa, as covas dos cemitérios reviradas, os laboratórios vazios, cheios de documentos espalhadas e cadáveres de cientistas. Tudo aqui é montado para que o jogador se sinta ainda mais imerso no game.

Outro elemento que também contribui para essa imersão é a mudança estética que o jogo adotou. Por se passar, majoritariamente, na Europa, os desenvolvedores trataram de trazer um pouco dos elementos fundamentais da região para as construções e cenários, um bom exemplo disso pode ser visto no castelo da família Ashford, bastante inspirado na verticalidade e ornamentação das construções góticas comuns durante a baixa Idade Média.

A base de pesquisa na Antártica também não fica para trás, mesmo com construções um tanto menores, se comparadas com as da ilha, e com apenas áreas internas, ela ainda é capaz de informar ao jogador boa parte do que aconteceu ali ao mesmo tempo em que cria uma grande tensão e um leve sentimento claustrofóbico. Um destaque aqui vai para a réplica do hall principal da mansão Spencer, cenário principal do primeiro game, que encontramos nos momentos finais deste jogo — foi uma agradável surpresa ver aquelas escadarias mais uma vez, especialmente porque foram colocadas em um contexto completamente novo.

Além disso, todos estes cenários são trabalhados duas vezes ao longo do game, uma vez com Claire e outra com Chris. Dessa forma o jogador consegue traçar rotas diferentes durante as duas partes da campanha (sim, a campanha é dividida em dois e não duas, ao contrário de outros jogos) explorando salas antes trancadas, trazendo a cada novo cômodo uma novidade.

Considerações Finais

Mesmo depois de 21 anos, CV ainda consegue se manter no mesmo patamar dos grandes jogos da atualidade, claro que seus gráficos são bastante datados e sua gameplay muitas vezes travada, mas acredito que esses são os charmes dos jogos antigos.

A meu ver o game ainda apresenta alguns dos mesmos problemas de seus predecessores, o backtracking é enorme e retornamos as lentas e cansativas telas de carregamento. Além disso, temos algumas complicações inéditas, já que, ao colocar o jogador na pele de dois personagens em sequência, sem informá-lo exatamente a hora da troca, o jogo nos nega acesso a certas áreas, por exemplo, enfrentei Nosferatu com o extintor de incêndio no inventário de Claire e por conta disso, Chris não teve como utilizá-lo para acessar determinada área onde estavam alguns itens importantes.

Outra reclamação vai para a luta final contra Alexia, que pode muito bem ser resumida em uma palavra: “péssima”.

Além destes, também senti as batalhas contra chefes bastante desbalanceadas, em momentos consegui finalizar certas lutas em poucos minutos, enquanto em outros precisei de mais de 15 tentativas para ter sucesso. Tive a impressão de que o jogo não indica ao jogador que um confronto desses está próximo e, por isso, o não conseguimos nos se preparar da melhor forma, especialmente se o player estiver jogando tudo pela primeira vez, como foi o meu caso.

Falando assim pode parecer que o saldo final é bastante negativo, mas mesmo com todos estes problemas senti que CV é um dos jogos mais divertidos da franquia e finalmente entendi por que ele é tão elogiado por grande parte da comunidade — sua trama é consideravelmente nova, nos apresentando a um novo vírus e a novos e detestáveis vilões, além de ser bastante envolvente e interessante, trabalhando personagens que foram um tanto ignorados nos jogos anteriores, especialmente Wesker e Chris.

Espero que um dia a Capcom decida que quer ganhar ainda mais dinheiro e finalmente anuncie um remake digno para esta obra.

Gostou do artigo? Tem alguma opinião sobre o game? Então não deixe de compartilhá-las comigo aqui nos comentários.

[As imagens utilizadas neste artigo foram retiradas do Google]

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Guilherme F. Mota

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